20060731

Era uma vez

Num pequeno mundo sem centro, o menino de olhos verdes. O pequeno mundo, para ele, era grande. Grande, pois seus olhos eram grandes. Caminhou duzias de dias pelo pequeno planeta, muito embora que com apenas um punhado deles, já teria dado a volta por ele inteiro. Até que um dia parou e sentou-se debaixo de uma árvore. A árvore era situada perto de um vilarejo e seu rio principal. Quando se sentou, conversou com um dos cidadões mais idosos que passava por lá e contou-lhe sua história. O velho lhe perguntou "Ora, por que não para em um lugar?". O menino olha para baixo, passa a mão sobre o gramado e espera um pouco. Uma maçã cai sobre sua cabeça e ele rí. "É por isso!"

20060720

Como você se chama?

Comecei a escutar, pois estava eu omisso,
apenas após ouvir o seu apelido,
fiquei triste, com o coração partido.
Não que algo maldoso foi dito,
talvez, talvez tenha sido por isso.

Quando o seu nome é pronunciado,
derrete na boca como mel,
corta pelo ar até o ouvido
e cria imagens de amor e estrelhas no céu.

Gostaria de sequestrar seu nome
e abandonar seu apelido, deixando-o para o resto.
Quero morrer numa hístoria de amor sem fim
enquanto os outros vivem numa eterna comédia chinfrim.

20060707

escritor pé de chinelo

Ele sentou-se a mesa, começou a escrever. Não sabia o que queria escrever. Apenas escreveu. Com sua caneta entre seus dedos, reclinou-se e a mordeu com seus dentes. Sujos, pois estava numa rotina de apenas sair de sua cadeira para café e expelir suas toxinas. Voltou para sua folha sulfite, cujas linhas são criadas pelo próprio autor com sua dupla. O lápis e a régua. Ao escrever notou, não, relembrou. Sua caligrafia não mudou nada desde seus 10 anos, quando realmente começou a escrever. Continuava feia como sempre, mas talvez com a conformidade de sua maturação de vida, ela se tornava mais legível que antigamente. Escreveu, escreveu e escreveu. Após duas páginas cheias de palavras, espaços e pontos, piscou os olhos. Na verdade, não piscou, fechou seus olhos por alguns segundos. Talvez o cansaço começasse a bater. Talvez não. Enfim, ao abrir os olhos, se deparou de novo com a inegável situação em que se encontrava e que tentava fugir. Seu pequeno e fétido quarto, amontoado de papel, produzira apenas um par de páginas com algum valor e que estava prestes a rasgá-las. Escreveu por dois dias sem fim, mas na realidade não escreveu nada. Notava-se isso pela quantidade de lixo que se encontrava na cesta logo ao lado da cadeira. Puxando o cabelo para trás e alisando-o algumas vezes, tentou respirar. Engasgou. Não se sabe como. Engasgou. Algumas gotas saíram de sua boca sobre o papel desvirginado, desfigurando as palavras nas quais as gotas caíam. Ao observar essa devastação de seu texto, encostou sua mão sobre seu olho direito e deixou-a escorrer sobre seu rosto. Coçou levemente seu queixo e em um breve instante de arrogância, se sentiu fracassado sobre seu próprio trabalho. Sem desistir ainda, guardou sua caneta em seu estojo de Mickey. Era uma das poucas boas memórias de criança que ainda restavam em sua vida. Levantou-se da cadeira e estendeu seus braços, dobrou-os e entrelaçou os dedos. Virou-se e foi deitar. Sua falta de inspiração o comandou a sonhar.