20050526

Through the Looking-Glass and what Alice Found There

Dia do Talvez. (A procura)

Será que esse mundo, mais que mundo
Nesse tal abismo, que de tão fundo
Encontre alguem não podre, imundo;
Que não seja superficial, mas sim, sim profundo
Alguem que mereça esse meu corpo morinbundo.

"Teatro"

Não há um único ser que seja igual a vida inteira ou é igual com todos. O conceito de que se usa “máscaras sociais” é aceitável mas extremamente insultante quando comparado com a enorme complexidade do processo pessoal de cada personalidade humana. Nem o próprio indivíduo nem os outros tem capacidade para comprovar que se é isso ou aquilo.

A forma de definir a nossa face, isto é, a nossa alma, espírito, personalidade enfim o que caracteriza o ser humano, é que ela na verdade é um grande mosaico. Cada parte, pedaço do mosaico corresponde a uma emoção, pensamento. A pessoa comporta-se diferentemente com cada tipo de grupo e com cada indivíduo dentro do grupo e tambem com os de fora. Age-se diferente quando se está com amigos do que quando se está com a família ou com desconhecidos.

Até entre amigos há diferenças, graús de intimidade alternados são a razão dessa variança de comportamento. As atitudes podem até ser iguais mas os motivos são contraditórios. Às vezes não se demonstra uma emoção para não se mostrar “fraco” mas tambem pode ser que não se quer magoar alguem. Há tantas variáveis imagináveis que regem sobre esse mosaico que o deixa quase inexplicável. Mas tendo em vista toda a história dos seres humanos, o maior sentimento que há é o de sempre querer se sentir superior (ou nunca inferior) aos seus semelhantes. Exemplo: Não chorar na frente dos outros. Talvez seja um mecanismo biológico de seleção natural. Porque se assegurar de que seu legado se propagará é necessário ser “melhor” que o próximo assim sendo que se encontra melhores paceiros/as quando se está no “topo” da cadeia humanitária.

O comportamento humano é feito desses fragmentos artísticos correspondentes as ações, emoções etc., que embora formem um todo, uma imagem clara não constroem uma resposta de quem realmente somos, pois essa imagem muda a cada segundo, a cada palpitação que consigo traz um novo pensamento à mente que pode mudar o mosaico. Pode-se dizer que é uma evolução do ser mas, na realidade, é apenas uma transformação constante, metamorphose ambulante, sem hora para acabar, pois até mesmo mortos afundados em covas pode-se mudar a história, o comportamento, a vida.

20050524

Memórias do Futuro do presente

Tudo acabou
O que era já foi
Tudo se extinguiu
O que era bom sumiu

Novos passos
em novos caminhos
sem trilhas, só espinhos
Caminho de volta, não há


Toda vida seguiu reta
agora na curva, virou
Será essa a morte
ou a morte evitou?

Estou com imensa fome mas alimentar-me não iria saciar-lá. Sentimentos revirados como se estivessem sendo mal-digeridos pelos sucos gástricos, ácidos, devorando em sua voraz procura por vida. Alma latente, não de alegria nem de dor, algo no meio, muito pior que um desses extremos. É a incerteza do que poderia mas não é, do amanhã mais que hoje, do minuto após o outro sem saber qual hora é. Todo dia, todo segundo, todo sempre, procuro entender os segredos, as razões do meu ser e tambem as dos outros, mas talvez elas não queiram ser entendidas por mim. Muito mais do que menos, caminho por tropeços, passos tortos e lamentações. Frustração e decepção são duas variáveis rotativas enquanto as constantes são compostas das pessoas e do ambiente excluso e escuro em minha volta. Observo cada andar, olhar, falar para compreender essas equações mas falho não na interpretação, nem nas palavras mas falho, inconsolávelmente falho em tornar essas anotações mentais em amor e terrivelmente elas acabam viraram pertubações impetulantes que estrupam minha realidade imaginada. Sim, a minha realidade tem dois planos, aquele onde vivem as pessoas e outro onde só meus sonhos e eu existem.


Quero ser desenho animado, onde as bigornas não doem e os atropelamentos não matam. As risadas são sinceras e o amor é uma pintura. Ser tudo que a imaginação nos deixa, não ser apenas mais um mediocre, um pobre. Querer ser muito mais que posso. É a minha sina. Ter minhas expectativas sempre destruídas somente aumentam essa legenda. Os ossos sairam de suas covas para me apedrejar, deixei de acreditar embora até eles ainda acreditam. Elipses, fugas de escape são minha vida. Elas que fazem com que não morra ou deixe morrer. Elas que tiram o presente do futuro, uma terra temporária, uma Pasárgada sem monarcas.

20050513

Memorias de um futuro passado

"Pensando bem
Em tudo o que a gente vê, e vivencia
E ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa pra gente
Existe uma pessoa
Que se você for parar pra pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas
Certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é pra na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira
A pessoa errada é na verdade, aquilo que a gente
chama de pessoa certa
Essa pessoa vai te fazer chorar
Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar seu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo, é que temos que viver
Cada momento
Cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando,
agindo, querendo,
conseguindo e
só assim
É possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo"
Quando na verdade
Tudo o que ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Pra que as coisas comecem a realmente funcionar
direito pra gente...
"Não temas desistir do bom para buscar o melhor"."
A Pessoa Errada (Luis Fernando Veríssimo)

Money:

O tempo muda. Muda tudo. Os pensamentos, sentimentos, percebções, visões, relações. Transforma amor em ódio, irritação em paixão, infignificância em poder. Vira a epiderme em papel mache, cria a memória e destroi o momento. Ele afasta e aproxima, é a lente entre passado e futuro. O tempo é o rei absoluto e todos são os seus escravos. Ninguem escapa do tempo. A fuga pode ser perpetuada, mas o final é invitável. Se ficar, o tempo pega. Se fugir, o tempo come. Ele é um monarca cruel porem justo. Ele rege igualmente terrível, vil a todos sem preconceitos.

Viver na terra do nunca, da eternidade pura é um pensamento tão tentador que chega a dar raíva a esse devaneio. Abaixo ao imperialismo, ao absolutismo, a futurocrácia sem poderes! Por que não cometer um atentado ao rei então? Colocar uma bomba embaixo de seu trono cravejado de pedras presciosas, em frente a todos os seus súditos, envergonhá-lo e humilhá-lo assim como ele faz conosco. Morar na terra onde o verde nunca fica marrom, onde o tempo não interfira nas nossas relações, onde o tempo não é mais a acumulação de batidas dos sinos, do contínuo rodar do relógio, uma terra do atempo.

O mundo dá uma volta, uma translação, rotação, à revolução. Risadas. Que triste, que pranto imaginativo, que casa na areia. É f.a.t.o. Sem o envelhecimento, o aprendizado árduo, os erros, problemas e as confusões é impossível enxergar a beleza. O que é o nascimento de sua criança sem os meses anteriores de dores e frustrações? O que é a conclusão de uma academia sem os anos de estudos? O que é um charme sem as décadas de sedução? O doce nunca é tão doce sem o amargo. Sendo assim não há modo de negar a nossa própria essência covarde e mesquinha de querer viver apenas os bons momentos, não há possíbilidade de negar o tempo. Ele é que nos dá vida metafísica mas ele ao mesmo tempo nos tira uma quantidade proporcional de vída interior.

20050507

Não diga adeus, diga até a eternidade

"I´d love to change the world
But I don´t know what to do
....so I leave it up to you"

Um au revoir, um adeus é tão triste, deprimente. É virar a página, trocar de ares, tudo acabar a espera de um novo começo. Uma gota d´agua escapa e escorrega pelo rosto ao abrir a caixinha de lembranças, a caixinha de músiquinha com a bailarina dançando. Mas pelo menos, a cada adeus, as memórias remanescem. Memórias são como cicatrizes, marcam a pele, perfuram a alma. Todas as dores, felicidades se juntam na ponta de uma lâmina que estilhaça a pele. Ferro e epiderme se fundem e o corpo constroe uma cicatriz. Essas cicatrizes, porém, não são ruins nem necessariamente boas. Elas são criadas para não esquecer o passado, pois o que é um ser humano sem seu pretérito, sem suas raízes? Um boneco aprisionado no presente...? O tamanho das cicatrizes é o quanto uma memória significa para a pessoa, é o quanto um acontecimento, uma pessoa, uma lembrança marcou, feriu.

Há todos os tipos de cicatrizes. As das mãos que só vê quando se limpa o suor do rosto, geralmente com um sorriso. As da face, distribuídas na testa, queixo, buchecha, nariz e que só são vistas diante do reflexo de um espelho. Por último, as das costas, que são as mais dolorosas, são as apunhaladas que só são visíveis para os outros, pois prefere-se esconde-las de nós mesmos. Por isso quando envelhecer e eventualmente padecer, nunca diga adeus, pois as cicatrizes serão carregadas para a eternidade.

20050504

random

Jugo

Em frente da Igreja,
Não prego, não sou pastor,
Nem pecador,
estou na espera de quem seja.

Extendo minha mão,
num gesto de carinho,
cujas dobras abrem caminho
para o meu sonhado perdão

Sinto sensação
sem sentido,
olhos invertidos
para ver o tamando do coração
Ploft. ------
Sigo em frente, adiante e
desligo a luz encandescente
deito-me e
viro fósforo fosforescente


Encontro

Olhos nos olhos
observo sua face
tento me aproximar,
embora a timidez condense
um sorriso me aparece,
onde os lábios formam um arco,
que lança uma flecha
e acerta minha alma
que se dissolve.

20050502

Oasis

Em meio as palavras
e pontos, encontro
refúgio, alívio e
comforto
dos refugos do mundo,
dos escravos dos pensamentos,
dos carapatos da vida,
sangue-sugas de carne
que me deixam num estado
peçonhento, sonâmbulo
inerente a vontade
de continuar.


In the kitchen he saw a cockroach, a little itsy bitsy spider and ants. Amazed with the wide diversity of his kitchens zoo, he wondered “Why don’t they kill each other?” He took yesterdays newspaper and killed them all with the exception of some ants that ran away. Crushed the cockroach with his foot and battered the spider ‘til death. He, then, sat down calmly and took quietly his mug of hot, fresh coffee and read the news from yesterday, again, as he did not receive today’s paper yet.


Pedaço de papel

Um pedaço
é arrancado da folha
de meu caderno
Tão simples
Se não fosse,
pelo que nele estivesse escrito
Estava estampado algo
Algo? Algo...
Um homenzinho de palito
"Mestre Dantas é feio"
É, ele é feio
Mas quem é quem
para se julgar alguem
Com odio,
Dantas intervêm
E amassa a brincadeira

De um pedaço de papel
Saiu um poema
Ou o poema que entrou no papel?
Não, o papel que entrou no poema...

Sem meio nem começo nem fim

Acordei com sono hoje. Estranho para alguem que nunca sentiu isso de manhã. Quero voltar para cama, sonhar... Está frio. Congelando, talvez. Levanto-me com os olhos fechados, mas não importa. Está escuro e minha visão seria resumida a zero mesmo com as pálpebras abertas. Vago como um sonâmbulo pelo quarto e acho o interuptor. Acendo o farol iluminado do recinto e em instântes a claridão imerge e finalmente abro rápidamente os meus olhos. Acordo. Apoio a minha mão na escrivaninha antiga e tento recordar as tarefas matinais. Tudo muito confuso. Em volta de toda essa luz, o escuro, mais noite que a noite, ainda domina a mente, fraca. Memórias se embaralham com emoções e sentimentos. Esqueça. Desligo a luz, talvez a clareza venha de dentro não de fora. Abro a porta e introduzo-me ao corredor. Sinto-me embriagado, embora esteja em todas as minhas condições físicas aptas. Engatinhho até o banheiro, onde as pedras de mármore refletem os pequenos raios de luz que penetram pela minúscula janela de cima. Sento do lado do lavábo e conto carneiros. Não quero durmir mas tambem não quero estar acordado. Estar no meio-sonho e na meia-realidade, no meio-fio da vida, entre o bem e o mal. Levanto e abro o armário. Escolho uma entre as várias escovas de dente, mas não a minha acho, era uma vermelha, não gosto de vermelho. Molho as cerdas embaixo da pequeno ducha da torneira e esprimo com angústia o final do tubo da pasta dental. Meus pés estão quase dormentes, devido ao contato deles com a pedra gelada. Mas não importa já que o resto do corpo não corresponde mais as minhas vontades. Deito no chão a espera... de algo